sábado, 20 de agosto de 2011

O urubu e a Vitória Régia

O URUBU E A VITÓRIA-RÉGIA
 
Pobre urubu, certo dia
Foi justamente pousar
Sobre uma pedra que havia
Às margens do "Rio-Mar".

E onde vivia reinando
Com todo o seu explendor,
A linda Vitória-Régia,
Vestida de nívea cor.

-"Benditas sejas, Vitória,
Rainha de graças mil,
- disse o urubu - eu te aclamo
Flor das flores do Brasil".

Ia ficar sem resposta, a saudação
Mas, ao fim, a altiva Vitória-
Régia voltou-se e falou assim:

-" Olha lá como me falas,
Ó atrevido urubu,
Ante minha magestade,
Ó infeliz, que és tú?

Quem és tú que não te curvas,
Negro da cor de retróz,
Messa melhor a distância
Imensa que há entre nós...

E ainda mais não te esqueças,
Da cor da neve nasci,
Filha do Rei Amazonas
Sou eu quem domina aqui...

E quando o sol me tinge a face
Com o mais custoso carmim,
Qual a rainha da terra
Que tem uma face assim? "

O urubu caiu das núvens,
Tão espantado ficou
Que só depois de passado
Um longo tempo assim falou:

-" Que nasceste da cor da neve
E que és rainha, sei bem, mas
Não te esqueças, vaidosa, que
Nasci branco também!

E ainda mais não te esqueças que,
Embora eu ande assim, de léu em léu,
Tú vives presa no lôdo
E eu vivo livre no céu..."

Monteiro Lobato

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